Regina Monteiro

Arquiteta e urbanista, conselheira e ex-presidente da associação Defenda São Paulo, fundada em 1988. Regina Monteiro - ONG Defenda São Paulo.

Qual o papel do Asseio e da Conservação no urbanismo?

Papel fundamental. O asseio e a conservação são o espelho do governo, te dão a fotografia da gestão pública e também da cultura e do comportamento do povo da cidade. É um fator da parceria do poder público com o cidadão e a iniciativa privada.

Uma cidade limpa e bem cuidada favorece a auto-estima da comunidade?

Com absoluta certeza. Em lugares que se vê limpeza no espaço público, a sociedade respeita. Quanto mais feio um lugar, mais a sociedade incrementa essa feiúra. O bom exemplo de São Paulo é o metrô. O exemplo ruim é a avenida Santo Amaro.

A partir de sua experiência como líder de uma ativa organização não-governamental, qual papel a senhora vê para a sociedade civil na conservação do meio-ambiente das cidades?

O meio-ambiente não é só a questão da poluição, as pessoas esquecem que ele é também o meio em que vivemos, uma junção de todas as coisas que nos envolvem, nosso habitat. A sociedade civil tem um papel fundamental nesse meio, para as questões ambientais e urbanas. E a sua conservação vai depender da gente, mas numa atuação conjunta com o poder público e a iniciativa privada.

Um maior cuidado com o Asseio e a Conservação dos espaços públicos diminuiria a reputação de metrópole inabitável de São Paulo?

Com certeza. Uma cidade é irrespirável quando está suja, com prédios degradados. São Paulo é a quarta maior cidade do mundo, compete com as demais em todos os sentidos, no turismo, geração de empregos, riqueza, e, tendo uma cidade mal cuidada, você só pode diminuir essa competitividade.

A senhora considera a terceirização uma ferramenta estratégica para as áreas de Asseio e Conservação no serviço público, particularmente na limpeza urbana? Por quê?

A limpeza é um cartão de visitas em todos os sentidos. É uma ferramenta por conta da infra-estrutura da cidade, baseada na questão da limpeza urbana: onde vamos pôr o nosso lixo, articular a drenagem urbana, de bueiros, córregos. É uma parceria fundamental, quem promove a limpeza da cidade tem que ser um parceiro da cidade.

Como arquiteta e urbanista, quais são, na sua opinião, os grandes desafios do urbanismo em São Paulo?

Os grandes desafios na cidade de São Paulo são quatro: o trânsito, com transporte coletivo e automóvel, a habitação, com mais da metade da população morando de forma inadequada, a questão das enchentes e a ocupação dos mananciais, que é um problema. Ou temos caixa d’água ou temos esgoto pra beber. A questão da água é muito grave. Nós temos saídas, um planejamento estratégico, que infelizmente perdemos uma grande oportunidade de implantar no Plano Diretor. Perdemos a chance de colocar como grandes metas esses quatro pontos, investir com tudo na drenagem urbana, no metrô, na habitação. Foi feito um grande relatório, mas faltou proposta de como as pessoas morarem com qualidade e o acesso aos equipamentos públicos. A gente nunca consegue o que a gente queria, mas consegue, ao menos, que seja menos pior.

Quais as principais ações do Defenda São Paulo?

Há um ano, fizemos um novo estatuto como Organização Social de Interesse Público (Oscip), o que vai facilitar a obtenção de recursos para viabilizar o acompanhamento das ações do poder público. Exemplos de nossas ações: conseguimos controlar o crescimento do aeroporto de Congonhas na área urbana, que trouxe muita poluição. Outra coisa foram os corredores de transporte coletivo, que hoje são muito melhores. Conseguimos inibir a construção de shoppings em áreas tombadas, como no antigo Hospital Matarazzo, que iria acabar com o patrimônio italiano de lá, e também que o Shopping Higienopólis não fosse tão grande como no projeto original, que impactaria muito aquela área já consolidada.

A ação da sociedade civil por meio das ONGs em São Paulo tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida no espaço público?

Tenho certeza de que sim. Deveria haver mais entidades como o Defenda São Paulo, que é constituído por muitas associações de bairro. Essa briga tem que ser dinâmica e constante, para não parecer que seja uma coisa política. A conquista do movimento foi conseguir que a sociedade se aproximasse muito do poder público. Antes não tinha conversa com a população, hoje você percebe que a prefeitura respeita a sociedade organizada, procura não fazer mais nada sem consultar a sociedade. O respeito ficou muito público, no âmbito municipal e no estadual.

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