21.07.2022 - Pandemia: prazo para recuperação de empresas se estendeu para dois anos
Falta de insumos, crédito caro e alta de custos acabaram fragilizando as empresas, segundo a Corporate Consulting
Recentemente, a Corporate Consulting, consultoria empresarial especializada em reestruturação financeira de negócios, revelou, em pesquisa, um cenário preocupante para os setores da indústria, serviços, comércio e transportes no país.
Para 52% delas, o faturamento caiu pela metade em relação ao ano de 2019, para 37%, o endividamento aumentou e para 84% das empresas é necessário emprestar dinheiro para reforçar o caixa.
As empresas que participaram do levantamento tinham um faturamento anual entre R$ 60 milhões e R$ 400 milhões que, juntas, empregam pouco mais de 100 mil pessoas.
“Com a pandemia, a situação mudou muito em razão da alta de custos, da falta de insumos e da previsibilidade do negócio”, diz o CEO da Corporate Consulting, Luís Alberto de Paiva.
- Dentre os problemas enfrentados pelos negócios estão:
- Margens insuficientes para manter a atividade;
- Passivos que comprometem o capital de giro;
- Estoques reduzidos;
- Dificuldades para negociar prazos de pagamento.
“A oferta de crédito está bem mais restrita e o custo do dinheiro, três vezes maior do que há um ano”, afirma Paiva. Assim, o cenário não é nada favorável para quem quer manter ou expandir um negócio.
Uma empresa que oferece garantias para uma instituição financeira, segundo o CEo, paga juros de 1,8% a 2% ao mês. Aquela que não tem o que oferecer paga 14% ao mês.
“A discrepância nas taxas hoje é muito grande. Aí a empresa descapitalizada começa a operar com prejuízo, fica sem dinheiro para pagar funcionários, tributos”, diz Paiva.
Diante deste cenário, as empresas tendem a suspender pagamento de impostos, reduzir quadro de funcionários, cortar salários e deixar de pagar bancos e credores, conforme explica o CEO.
Mais prazo para reestruturação
A fragilidade dos negócios chegou a tal ponto, diz ele, que, com a pandemia, a recuperação de uma companhia endividada, que levava oito meses em média, passou para dois anos.
“Antes, havia um prazo para injetar recursos nas empresas, acertas custos, precificar e dava para planejar quando o produto voltaria a ser rentável”, recorda Paiva.
Todo este processo está agora comprometido, segundo ele, em razão da disparada da inflação, falta de matéria-prima, alta nos preços dos combustíveis e do crédito mais caro.
O CEO diz que conversa diariamente com representantes de instituições financeiras que não escondem mais a preocupação com o descumprimento generalizado de pessoas jurídicas.
Os negócios estão com dificuldade até mesmo para pagar empréstimos realizados com juros de 1% , como do Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), do BNDES.
No mês de abril, 6,11 milhões de empresas estavam inadimplentes no país, quase 200 mil a mais do que no mesmo período do ano passado, de acordo com a Serasa Experian. O número é o mais alto desde abril de 2020 (6,14 milhões).
“Hoje, há um sucateamento da indústria nacional. As margens de lucro que, no passado, eram 15% a 20% em alguns setores, hoje são pífias, baixas, de 2% a 3%”.
São de cinco a seis anos, em média, os prazos para alongamento de dívida, com carência de um ano, para empresas que não usam o recurso de recuperação judicial, comenta o CEO.
Para os negócios que estão em recuperação judicial, os prazos para pagamento de dívidas, com até dois anos de carência, são de até 20 anos, com desvalorização entre 50% e 70%.
Tempos de dificuldade
O presidente da Boanerges & Cia, especializada em serviços financeiros, Boanerges Ramos Freire, diz que se a água já estava na altura do nariz das empresas, agora já chegou à cabeça.
“Depois de ter nadado muito na pandemia e chegado à praia achando que ia descansar, encontraram leões prontos para comê-las”, diz Freire sobre a situação das companhias.
Para ele, quem tem ajuda de uma boia, eventualmente pode sobreviver, mas, infelizmente, tempos mais difíceis para as empresas estão por vir neste semestre.
“A inflação subiu demais no mundo todo por vários motivos, em razão de toda emissão de dinheiro para atender à pandemia e de problemas nas cadeias de produção.” pontua o presidente da Boanerges & Cia.
Freire diz que a expectativa de recessão leva o empresário a investir menos.
“Com isso, a inflação e juros sobem, aumentam os riscos e, quem estava no limite, não consegue mais sobreviver”, explica ele.
De olho no caixa
Se o caixa da empresa não estiver bem controlado, isto é, se o empresário não tiver bem claro tudo o que paga e tudo que recebe no mês, dificilmente vai sobreviver, explica Freire
Alongar prazos de pagamento e antecipar recibos pode ajudar a reforçar o caixa, diz ele, bem como vender parte dos ativos, recorrer a crédito bancário ou até a amigos e familiares.
“Abrir capital agora não adianta. Quem fez isso no ano de 2021 não se deu bem”, afirma Freire.
Segundo ele, esta fase ruim para as empresas não deve acabar com as eleições.
“Ainda não há clareza de qual será a política econômica do país. É um período de muitas incertezas", avalia Freire.
Ainda que as perspectivas sejam pouco favoráveis, Paiva diz que os empresários entendem que, em um cenário político sem rupturas e com carga tributária menor, o país volta a crescer.
Com informações adaptadas da Fenacon
Publicado por LÍVIA MACARIO - Assistente de Conteúdo